Antes do título, o atleta é pessoa

O ser humano nem sempre consegue ser empático (isto é, nem sempre consegue compreender emocionalmente o outro, partilhando os seus sentimentos e motivações). Ao não ser suficientemente empático, muitas vezes não sabe como ajudar o outro, porque não sabe, verdadeiramente, o que é que o outro está a sentir. Ser empático não é algo adquirido e inconsciente. É, sim, uma competência que exige manutenção consciente e consistente. É como ir ao ginásio para obter resultados. Por muitas qualidades que possa ter, nenhum ser humano veste capa de super-herói. Todo o ser humano é falível. Até os atletas de alta performance. Falar de rendimento desportivo é falar de todas as ações de um qualquer atleta no sentido de superar todos os desafios impostos no treino e nas provas ou jogos. Falar de luto é falar de uma resposta natural à perda de algo ou alguém significativo, que se faz acompanhar por sentimentos intensos e de difícil gestão. É um processo que exige à pessoa enlutada a construção de um significado capaz de conduzir à integração da perda. E quando juntos? De que forma é que a vivência do luto pode constituir obstáculo à otimização do rendimento desportivo de um atleta? Existem inúmeras condições, humanas e materiais, que podem influenciar o rendimento desportivo de um atleta. Essas condições são desde as instalações, aos equipamentos, aos adversários. Podem ser atribuíveis ao ambiente que o rodeia, e podem dividir-se entre materiais e sociais. As materiais não podem ser influenciadas pelo treino, mas podem ser modificadas. As sociais podem ter uma influência direta, como por exemplo as indicações dos treinadores, ou uma influência indireta, como por exemplo o suporte familiar e social. Também existem componentes que são alheios à prestação desportiva do atleta, mas que o influenciam, tais como o público e adeptos. Além das condições e dos componentes, ainda existem os fatores. Os fatores são elementos-chave, exclusivos de cada atleta, determinados pelo talento/dotes e pelo ambiente. São, na sua grande maioria, influenciados pelo treino, mas também têm um grande contributo genético e exterior. Entre eles está aquilo que é diretamente observável, como a condição física do atleta, e o que é indiretamente observável, como por exemplo os respetivos estados psicológicos, que criam ou bloqueiam no atleta a disponibilidade para estar no treino e em prova/jogo. Por isso, um atleta em processo de luto, mesmo que de alta performance, é um atleta cujo rendimento desportivo poderá não estar otimizado. Sejamos mais empáticos. Menos críticos. Mais compassivos. Ganhamos nós. Ganham os outros. Ganha a humanidade.

Referências Bibliográficas
Serpa, S. (2016). Grau I – Fatores Psicológicos e Psicossociais da Prestação Desportiva. Psicologia do Desporto (pp. 3-15). Chamusca, Edições Cosmos.

Autoria de Jéssica Torrado, Psicóloga Clínica e da Saúde
Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses nº26690