Autismo: conheça os principais sinais de alerta

Desde idades muito tenras do desenvolvimento infantil que podemos encontrar alguns sinais que nos podem eventualmente remeter para um possível diagnóstico da perturbação do espectro autista (PEA).
De acordo com os autores Martos e Burgos (2013), os principais sinais de alerta surgem após o primeiro ano e meio de vida da criança que tem um desenvolvimento caracterizado como normal até então. A partir desta idade é que se começam a evidenciar alguns sintomas compatíveis com PEA. Os mesmos autores (Martos & Burgos, 2013) referem que por volta dos 18 meses são observáveis as primeiras alterações no desenvolvimento relacionadas com uma estagnação no mesmo. É comum observar que a criança perde a linguagem adquirida até ao momento, não responde quando se chama ou quando se dá ordens, mas por outro lado reage a outros estímulos auditivos (como é o caso da televisão). De igual modo, a criança pode deixar de se interessar pela relação com outras crianças e gradualmente são observáveis condutas de isolamento social. De forma idêntica, algumas das manifestações visíveis podem incluir o não olhar diretamente para os outros e a dificuldade para estabelecer o contacto visual. Em contrapartida, na atividade funcional e no jogo com os objetos a criança pode ser muito rotineira e repetitiva.

No que se refere à atividade simbólica a criança pode não a desenvolver, repetindo quase sempre as mesmas coisas, rotinas e rituais. Mostra oposição às mudanças no entorno e perturba-se emocionalmente, por vezes de forma excessiva, quando se realizam pequenas alterações.

Para além do que foi mencionado anteriormente, os mesmos Martos e Burgos (2013) indicam que tem sido descrita também uma normalidade aparente até aos primeiros 8 ou 9 meses do desenvolvimento acompanhada de uma “tranquilidade expressiva”. Bem como, a ausência de condutas de comunicação intencional entre o 9º e o 10º mês. De igual modo são reportadas alterações relacionadas com o desenvolvimento da linguagem (linguagem limitada ou ausente), presença de rituais e oposição às mudanças.

Por seu lado, os autores Semrud-Clikeman e Ellison (2011) defendem que o autismo se refere a um conjunto de sintomas, podendo-se associar a muitas perturbações neurobiológicas e a níveis intelectuais muito variados. Há muitos atrasos e alterações no desenvolvimento que se acompanham por sintomas de PEA sem constituírem por si só um quadro de autismo. O autismo deve ser considerado como um continuo que se apresenta em diferentes graus e em diferentes quadros de desenvolvimento, referem os autores Semrud-Clikeman e Ellison (2011). Importa ainda acrescentar que as dificuldades de interação social tais como: contacto visual deficitário, as dificuldades para entender a comunicação não verbal e a reciprocidade social são sintomas chave para o diagnóstico da PEA.

Assim, Salgado-Cacho, Moreno-Jiménez e Diego-Otero (2021) indicam que o diagnóstico da PEA, de acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais – DSM 5, requer da consideração de dois critérios: (a) défice na comunicação e interação social; e (b) comportamento e interesses restritos e repetitivos. É do conhecimento geral que desde a suspeita até à confirmação do diagnóstico da perturbação do espectro autista as famílias vivenciam um período bastante angustiante, logo, tal como referem Salgado-Cacho, Moreno-Jiménez e Diego-Otero (2021) a identificação destes sinais e sintomas iniciais permite desenvolver estratégias para a intervenção junto destas crianças e das suas famílias. De igual modo, quando mais cedo se estabelecer o diagnóstico melhor será o prognóstico da criança a longo prazo.

Neste sentido, a consulta junto de um profissional de neuropsicologia poderá ajudar no estabelecimento do diagnóstico e tratamento da criança com perturbação do espectro autista desde idades muito iniciais do desenvolvimento.

Dra. Daniela Marques, Cédula Profissional nr. 26221