Dislexia

Dislexia


A Dislexia consiste numa perturbação do neuro desenvolvimento, que se caracteriza por dificuldades significativas na precisão e fluência no reconhecimento de palavras e nos processos ortográficos. Estas dificuldades não são resultantes de dificuldade intelectual, alterações sensoriais, perturbações neurológicas ou motoras, absentismo escolar, desvantagem económica ou ambiental (Peterson & Pennington, 2015). 

Com base nas evidências científicas sobre a natureza neuro-biológica e neuro-cognitiva da Dislexia, o DSM-5 (Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais – 5ª Edição) inclui esta perturbação no grupo das Perturbações do Neuro desenvolvimento, considerando-a uma “perturbação de origem neuro-biológica que estará na base das alterações observadas a nível cognitivo e, consequentemente, às diversas manifestações sintomatológicas na leitura e escrita”. Assim, os indivíduos com Dislexia apresentam um conjunto significativo de dificuldades específicas no reconhecimento de palavras (precisão), na descodificação de pseudopalavras, na fluência (leitura rápida, precisa e com adequada compreensão) e nos processos ortográficos. Adicionalmente, constatam-se alterações na escrita que incluem erros fonológicos, ortográficos/lexicais e gramaticais bem como dificuldades nos processos cognitivos subjacentes à composição textual, com repercussões negativas no desempenho académico e profissional (Afonso, Suárez-Coala, & Cuetos, 2015).

A relação entre leitura e desenvolvimento do vocabulário é recíproca, uma vez que a leitura promove o desenvolvimento do vocabulário e este facilita a compreensão do material escrito. Dadas as dificuldades de leitura que as crianças com Dislexia revelam, estas tendem a ler menos, o que implica um desenvolvimento mais lento do vocabulário e, concomitantemente, inibe uma adequada leitura e compreensão do que leram. 

O DSM-5 estima que 5% a 15% das crianças apresentam um Perturbação de Aprendizagem Específica, sendo que estudos em Portugal constataram uma prevalência da Dislexia de 5,4% em crianças do 1ºciclo (Sucena e Viana, 2011). Adicionalmente, diversos estudos epidemiológicos observaram uma predominância da Dislexia no género masculino e entre elementos da mesma família, sugerindo a hereditariedade desta perturbação. É, ainda, frequente observar-se uma relação comórbida entre a Dislexia e outras perturbações do Neuro-desenvolvimento (nomeadamente, PHDA e Discalcúlia). 

Uma vez que, a aprendizagem da leitura é um processo complexo e multifacetado, a sua aquisição implica o recurso a diversas áreas cognitivas. Adicionalmente, e dada a comorbilidade entre diferentes Perturbações do Neuro-desenvolvimento, é necessária uma avaliação abrangente das várias áreas cerebrais, com o objectivo de melhor compreender as possíveis causas para estas dificuldades e adaptar a intervenção bem como facultar medidas de adaptação curricular e pedagógica necessárias.  

Deste modo, é importante que caso o seu filho ou aluno revele algum dos sinais de alerta descritos abaixo, seja re-encaminhado para avaliação por uma equipa multidisciplinar, nomeadamente, avaliação neuropsicológica, por Terapia da Fala, Terapia Ocupacional ou Psicologia Clínica.

Sinais de Alerta: 

  1. Na infância 

Atraso no desenvolvimento da linguagem e na pronúncia de alguns fonemas (sons); 

Dificuldades na construção de frases com sentido (Ex. frases curtas e com erros de pronúncia); 

No ensino pré-escolar, demonstrou dificuldade em memorizar as lengalengas, canções infantis bem como francas dificuldades nas actividades de rimas e de segmentação silábica; 

Dificuldade em memorizar e recordar algumas letras; 

Historial familiar de Dislexia ou dificuldades de aprendizagem;


  1. Na Idade Escolar 

Dificuldades na aprendizagem da leitura e da escrita, nomeadamente, dificuldades na aprendizagem das letras, sílabas e ditongos bem como no reconhecimento de palavras; 

Aprendizagem e memorização das letras e automatização dos processos de leitura e escrita lentificadas, comparativamente com os pares; 

Dificuldade em compreender a divisão silábica e fonética; 

Dificuldades em manipular os diferentes fonemas que compõem as palavras;

Leitura lentificada e caracterizada por uma leitura sílaba a sílaba ou soletrando as palavras; 

Erros frequentes nas tarefas de leitura (substitui ou omite letras, inclui ou inverte letras); 

Dificuldades em compreender o que leu devido aos erros frequentes e à reduzida fluência, embora sem dificuldades de compreensão caso as histórias lhe sejam lidas; 

Erros frequentes nas tarefas de leitura e de escrita; 

A composição escrita é caracterizada por frases curtas e sem sentido, sem encadeamento lógico de ideias, com erros ortográficos e gramaticais frequentes. 

 

Referências Bibliográficas:  

Afonso, O., Suárez-Coalla, P., & Cuetos, F. (2015). Spelling impairments in Spanish dyslexic adults. Frontiers in Psychology, 6(466), 1-10. 

American Psychiatric Association (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th Edition). Washington, DC: American Psychiatric Publishing. 

Peterson, R.L., & Pennington, B.F. (2015). Developmental dyslexia. Annual Review of Clinical Psychology, 11(1), 283-307. 

Sucena, A., Castro, S.L., & Seymour, P. (2009). Developmental dyslexia in an orthography of intermediate depth: The case of European Portuguese. Reading and Writing, 44(4), 358-371. 

Portal da Dislexia — Sintomas, Avaliação e Intervenção     

            

Drª Ana Rita Freitas

Cédula Nº: 23653