Não é suposto ficares em burnout

Já se sabe que o burnout é uma doença profissional que afeta cada vez mais portugueses. Nas manchetes dos jornais podemos encontrar títulos preocupantes como “síndrome do burnout afeta 13% da população portuguesa”, “Portugal é o país da União Europeia onde os trabalhadores mais correm o risco de sofrer burnout?”, “Stresse e burnout custam €3,2 mil milhões de ano às empresas”, “Portugal é o terceiro país com maiores níveis de stresse da Europa”, entre muitos outros.

O burnout tem sido cada vez mais estudado e é uma preocupação também dos/as psicólogos/as portugueses que se dedicam ao estudo deste síndrome. Como já se sabe, o burnout é caracterizada pela sensação de esgotamento ou exaustão emocional, a redução da sensação de realização profissional e pessoal e o sentimento de eficácia relativamente ao trabalho, e também a sensação de maior distanciamento emocional dos relacionamentos no trabalho.

Toda e qualquer pessoa que seja profissionalmente ativa corre o risco de ficar em burnout, se não se acautelarem os riscos psicossociais inerentes ao trabalho. Da mesma forma que acautelamos questões ergonómicas, como levantar o ecrã do computador, ou assegurarmo-nos de que a cadeira em que trabalhamos é a mais adequada, também temos que acautelar questões como as exigências laborais, o work-life balance, qualidade da liderança, assédio laboral, entre outras. Às vezes realizamos trabalho que excede as nossas competências, ou pelo contrário, não nos estimula o suficiente, podemos ter dificuldade em sermos assertivos e em dizer que não aceitamos mais trabalho ou, pelo contrário, podemos ter dificuldade em delegar trabalho a colegas pela crença de que só se formos nós a fazer é que o trabalho fica bem feito (não se confiar na equipa). Também se pode dar o caso de não termos o devido reconhecimento e requalificação, as recompensas podem ser escassas ou inexistentes, podem estar constantemente a exigir de nós sem qualquer tipo de retorno. São tantos os motivos que nos podem deixar em burnout.

As pessoas não ficam logo em burnout. É preciso algum tempo de exposição a situações de stressantes, para que eventualmente o quadro evolua para um quadro de burnout. Existem três tipos de medidas preventivas que se podem adotar: as individuais, as grupais e as organizacionais.

As medidas individuais dizem respeito ao próprio individuo e dizem respeito a medidas de autocuidado, como começar o dia de uma forma descontraída e calma, através de meditação, por exemplo, que realize atividade física regular, que tenha uma alimentação cuidada e que beba água, que passe tempo de qualidade com a família e amigos, não exagere no consumo de álcool e outras substâncias, estabelecer limites, praticar a assertividade dizendo “não”, estimular o lado criativo, aprender a gerir o stresse, o tempo, a resolver problemas de uma forma saudável, entre outras.

As medidas grupais estão relacionadas com o apoio de colegas e superiores, e até mesmo através de estratégias que melhorem as relações interpessoais e reforcem o espirito de equipa. Sendo nós seres sociais, temos que compreender que, às vezes, a equipa também pode ser uma fonte de stresse.

Já as medidas organizacionais primam que o problema também está no contexto organizacional e laboral. Por isso, cada vez mais é importante que os CEOs das empresas privadas e os grandes Órgãos de Gestão públicos adotem medidas que primem o bem-estar psicológico e emocional dos seus/suas funcionários. A Organização Mundial de Saúde (2020) recomenda:

·        Validar emoções, como o stresse ou o sentimento de pressão;

·        Importância de gerir a própria saúde mental e bem-estar psicossocial, a par da física;

·        Recurso a estratégias de coping úteis, como manter o contacto com família e amigos, o descanso entre trabalho ou turnos, alimentação saudável, prática de atividade física, entre outras;

·        Evitar recurso ao consumo de substâncias, como o álcool, tabaco ou outras;

·        Confiar na família e nos colegas de trabalho que também possam estar a passar por situações semelhantes.

É urgente que as organizações compreendam a sua responsabilidade no bem-estar dos/as seus/suas profissionais, e que promovam programas com o objetivo de melhorar a integração psicossocial do/a trabalhador/a.

Do que estamos à espera para mudarmos culturas organizacionais e priorizar o bem-estar emocional dos/as colaboradores/as? Colaboradores felizes e saudáveis são mais produtivos e mais economicamente rentáveis.

 

Eunice Caracol

Psicóloga Clínica e da Saúde Ocupacional