Perfil Neuropsicopatológico dos adultos com diabetes

A diabetes mellitus ou sacarina é uma doença metabólica e crónica que se caracteriza e identifica pela presença de hiperglicemia na ausência de tratamento, resultando de alterações na secreção de insulina, na ação da insulina ou ambas, levando a distúrbios no metabolismo dos hidratos de carbono, das proteínas e da gordura. Estas desregulações metabólicas conduzem a diversas complicações, o que faz da diabetes uma doença com impacto multisistémico que afeta o funcionamento de vários órgãos, sendo um deles o cérebro.

Existem vários tipos de diabetes, mas as formas mais comuns e mais conhecidas são a diabetes de tipo 1 e a de tipo 2. A diabetes de tipo 1 tem uma etiologia auto-imune e idiopática e, apesar de também poder ter o seu início na idade adulta, é mais comum nas crianças e nos adolescentes; por sua vez, a diabetes de tipo 2 tem a sua principal causa associada aos hábitos de vida (e.g., sedentarismo, alimentação com elevados níveis de açúcar, hidratos de carbono, gordura saturada, ansiedade, etc.) e embora o seu início seja mais comum na idade adulta, tem vindo a manifestar-se nas crianças e nos adolescentes.

Apesar de não estarem bem compreendidos os mecanismos através dos quais as alterações metabólicas desencadeadas pela diabetes causam mudanças na estrutura cerebral e na dinâmica do sistema nervoso central, levando a alterações neuropsicológicas, têm sido apresentados alguns fatores, como as alterações na permeabilidade da barreira hemato-encefálica, o tempo de duração da doença, a variabilidade glicémica (eventos recorrentes de hipoglicemia e/ou de hiperglicemia), a resistência à insulina, o stress oxidativo, entre vários outros.

Acerca da diabetes de tipo 1, as alterações da estrutura cerebral são a diminuição do volume de substância cinzenta em áreas do lobo temporal, frontal, parietal e algumas estruturas subcorticais (Yu, Cheing, Cheung, Kranz, & Cheung, 2021; Musen, Lyoo, Sparks, Weinger, Hwang, Ryan, Jimerson et al., 2006), a diminuição do volume de substância branca na coroa radiada, no corpo caloso e nos fascículos longitudinal superior e fronto-occipital inferior (Yoon, Kim, Musen, Renshaw, Hwang, Bolo, Kim et al., 2018), a diminuição da atividade cerebral espontânea e a diminuição da conectividade funcional entre áreas do córtex cingulado e do lobo frontal (Xia, Chen, Luo, Zhang, Chen, Ma, & Yin, 2018).

A respeito das alterações neuropsicológicas de domínio cognitivo, as mais referenciadas prendem-se com a diminuição do desempenho nas medidas de QI total, de atenção, de velocidade psicomotora, de flexibilidade mental e perceção visual (Brands, Biessels, Haan, Kappelle, & Kessels, 2005; Kold, & Seaquist, 2008). Além destas, também se veem alteradas as funções de velocidade de processamento de informação, de eficiência psicomotora, de resolução de problemas, de vocabulário, de visuo-construção e de força motora (Kold, & Seaquist, 2008). Para as alterações de domínio emocional, o humor depressivo e a ansiedade são as alterações mais mencionadas (Benmaamar, Lazar, Harch, Maiouak, Qarmiche, Otmani, Salhi et al., 2021).

Ao nível da diabetes de tipo 2, as alterações da estrutura cerebral mais descritas são a diminuição do volume de substância cinzenta em regiões como o lobo pré-frontal, o cerebelo, o hipocampo, o parahipocampo, a amígdala (Roy et al., 2020), entre outras, e a diminuição do volume de substância branca e da sua microestrutura nas regiões frontal e temporal (Chen, Sun, & Ma, 2012; Moran et al., 2013). Acrescem ainda, as alterações da conectividade funcional (e.g., diminuição da força da conexão em áreas do lobo frontal e parietal (Guo et al., 2021)).

No que às alterações neuropsicológicas diz respeito, existem alterações essencialmente de domínio cognitivo (e.g., atenção e concentração, memória visual e verbal, velocidade de processamento de informação, funcionamento executivo (Kold, & Seaquist, 2008), entre outras) e de domínio emocional (e.g., sintomatologia depressiva e ansiogénica (Oguz, 2018)), que por sua vez, têm sido associadas a alterações de comportamento (e.g., a correlação entre o humor depressivo e uma autogestão da doença empobrecida (Schmitt et al., 2021)).

Além disso, não será difícil hipotetizar, tanto para os adultos com diabetes de tipo 1 como para os de tipo 2, que o produto da interação de todas as alterações referidas desajuste as condutas de socialização, podendo expressar-se em evitamento e/ou em isolamento social.

Espero que tenha sido um tema do seu interesse e que de alguma forma lhe possa ser útil.

Dra. Dulcineia Boto, Cédula Profissional nr. 14875