Quer diminui a ansiedade? Comece a brincar …..

São 7h da manhã de segunda feira. O João e a Maria acordam para mais uma semana. Têm meia hora para se prepararem para o trabalho, antes de acordarem os dois filhos para irem para a escola. A Ana e o Miguel, filhos do casal, demoram a acordar, e como ainda estão ensonados, demoram algum tempo a vestir-se e a tomar o pequeno almoço. Começam a ficar atrasados, o que provoca alguma ansiedade no casal, e, consequentemente nas crianças. Depois de algumas “birras”, estão prontos para enfrentar o dia.
Esta descrição é pura ficção, contudo sendo Portugal um dos países da Europa com índice mais elevado de casais em que ambos os membros estão empregados a tempo inteiro, e sendo que muitas empresas e organizações ainda não oferecem medidas efetivas que permitam a conciliação da vida profissional com a vida familiar, tal acontecerá na casa de muitas famílias portuguesas.
Estudos demonstram que as crianças dormem em média menos 1 hora do que dormiam há 30 anos. Por outro lado, a qualidade do sono tem vindo a piorar, tanto em crianças como em adultos (note-se que a utilização de medicação para dormir, nomeadamente ansiolíticos, sedativos e hipnóticos são cada vez mais frequentes). Sabemos que a falta de sono provoca cansaço, falta de energia, diminuição de concentração, alterações de humor, baixa de rendimento escolar (nas crianças) e aumento dos níveis de ansiedade. Sabemos também que os níveis de ansiedade condicionam a qualidade de sono … Estamos perante um ciclo vicioso: quanto menor o sono maior a ansiedade, quanto maior a ansiedade menor é o sono.
Além da falta de sono a falta de atividade (sedentarismo) condiciona de forma significativa os níveis de ansiedade. Os adultos trabalham várias horas seguidas sem possibilidade de fazer exercício físico e as crianças, escravas do tempo dos pais, devido à sobrecarga dos currículos pouco tempo têm para se mexerem.
As crianças passam cada vez mais tempo na sala de aulas. De acordo com o Professora Carlos Neto os períodos de recreio são cada vez mais curtos, cerca de 70% das crianças têm menos de 1 hora de brincadeira livre por dia, ou seja, “menos tempo que os prisioneiros nas celas das prisões”.
Quando falamos de brincar, falamos do “brincar livre”, no qual a criança pode escolher fazer aquilo que mais gosta, no seu tempo e no seu espaço, de acordo com as suas características, necessidades e fase de desenvolvimento.
Quando falamos de brincar, falamos da possibilidade de brincar diariamente. Como diz Eduardo Sá “brincar só ao fim de semana não é brincar”.
Quando falamos de brincar falamos de facilitar o crescimento e a saúde.
Brincar é essencial para o desenvolvimento físico a mental da criança. Através da brincadeira a criança desenvolve as suas competências motoras e percetivas, mas também a criatividade, a capacidade de comunicar, de tomada de decisão, de resolução de problemas e autorregulação emocional.
Além do mais, quando a criança brinca, ao nível cerebral, são libertadas substâncias neurotransmissoras (endorfinas, serotonina, dopamina) responsáveis pela redução da ansiedade e da tensão, aumentando a sensação de calma, bem-estar e felicidade.
As crianças precisam de brincar entre elas, mas também precisam de brincar com os pais. E os adultos também precisam de brincar. Como refere Winnicott “É no brincar, e talvez apenas no brincar, que a criança ou o adulto fruem na sua liberdade de criação”.
Brincar em família é uma forma diversão e estreitar os laços familiares, mas é também uma forma de criar momentos de felicidade que irão melhorar o bem-estar físico e emocional de todos os elementos, pois diminui significativamente os níveis de ansiedade.
Pela sua saúde (física e mental) brinque e deixe as crianças brincar!
Lígia Garcia
Psicóloga - Especialista na Área de Psicologia Clínica e da Saúde
Cédula Profissional 2223 da Ordem dos Psicólogos Portugueses